A Bela e a Fera
de Charles Perrault
Era uma vez um mercador que, precisando fazer uma
longa viagem, perguntou as três filhas que presentes desejavam lhes trouxesse,
ao regressar. As duas mais velhas pediram vestidos e jóias e a mais nova,
chamada Bela, que era a predileta do pai, pediu-lhe apenas uma rosa.
Resolvidos os negócios e quando já tinha empreendido a
viagem de retorno, perdeu-se o mercador à noite num bosque. Caía neve e o vento
era tão forte que tornava a caminhada muito incômoda e fatigante. De repente,
porém, ele viu brilharem umas luzes entre as árvores. Encaminhou-se para aquele
lugar e encontrou-se diante de um palácio todo iluminado. Entrou e, depois de
atravessar vários salões completamente desertos, chegou a um compartimento,
onde estava posta uma grande mesa, com muitas iguarias. Como estava com fome,
sentou-se e comeu com grande apetite. Satisfeito o seu desejo, passou para
outro cômodo, onde encontrou uma bela cama. Sem mais preâmbulos, deitou-se e
adormeceu.
Na manhã seguinte, despertou, já com o sol alto e,
junto ao leito, em vez de seus velhos trajes, achou uma bela e nova roupa.
Vestiu-a sem receio e, depois da refeição matinal, que já encontrou preparada,
saiu da hospitaleira e misteriosa habitação. Mas, quando ia passando pelo
jardim, viu um roseiral florido. Recordando-se, só então, do pedido da filha
predileta, colheu a mais bela rosa. Tão logo o fez, sentiu o chão tremer de
modo apavorante e uma horrível fera surgiu ante o espantado mercador. -
Ingrato! – exclamou o estranho ser. - Hospedei-te em meu castelo e tu, como
único agradecimento, colhes a flor do meu rosal, profanando aquilo que estimo
ainda mais que a própria vida! Como castigo, vais morrer!
O pobre homem, trêmulo, suplicou à fera que lhe
perdoasse a involuntária ofensa a contou-lhe que havia colhido a rosa para
levá-la de presente à filha mais nova. - Perdôo-te – disse o monstro - com a
condição de me trazeres aqui essa tua filha!
O velho adorava a sua Bela e, com profundo pesar, teve
de levá-la ao castelo do bosque e ali deixá-la à mercê do monstro. A donzela
estava convicta de que seria por ele devorada e ficou assombrada ao verificar
que, ao contrário, ele a tratava com toda a delicadeza, tudo fazendo para que
nada lhe faltasse e adivinhando seus mínimos desejos. Todas as tardes, o
estranho hospedeiro ia visitar sua hóspede e entretinha-se a palestrar com ela.
Assim, pouco a pouco, quase sem o perceber, Bela afeiçoou-se à Fera, a ponto de
não poder ficar por muito tempo sem sua presença. Nos aposentos que a donzela
ocupava no castelo, havia um espelho mágico, que refletia nitidamente tudo
quanto se passava na casa do mercador. Bela, de quando em quando, olhava no
espelho para informar-se a respeito de sua família. Uma noite, ela viu, por
ele, que o pai adoecera gravemente. Chorando, suplicou ao monstro licença para
passar uns dias com os seus pais e irmãos. A Fera, após recomendar-lhe que
regressasse no fim de uma semana, consentiu.
O mercador, devido à alegria de poder ver e abraçar
novamente a filha querida, sarou depressa. Os dias passavam voando para a
jovem, na casa paterna, e a semana findou sem que ela percebesse. Uma noite,
porém, ela sonhou que o monstro estava agonizante e chamava por ela
aflitivamente. Atemorizada e cheia de remorsos, acordou, levantou-se e partiu
no mesmo instante para o palácio do bosque, onde encontrou a fera no jardim,
estendida junto ao roseiral e desacordada. A donzela, em prantos, abraçou-a e
disse-lhe, soluçando: - Não morras! Não morras! Se sarares, eu me casarei
contigo!
Apenas acabou de pronunciar tais palavras, a fera,
dando um salto, transformou-se num belo príncipe. Agradeceu, então, à jovem por
ter posto fim, com suas palavras, ao triste encantamento a que tinha sido
condenado por uma bruxa. Em seguida, levou-a para o seu reino, onde o casamento
foi celebrado com deslumbrantes pompas e os esposos viveram alegres e felizes,
por muitos e muitos anos.
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