A coruja e a águia – Fábula de Monteiro Lobato
Coruja e águia, depois de
muita briga resolveram fazer as pazes.
— Basta de guerra — disse
a coruja.
— O mundo é grande, e
tolice maior que o mundo é andarmos a comer os filhotes uma da outra.
— Perfeitamente —
respondeu a águia.
— Também eu não quero
outra coisa.
— Nesse caso combinemos
isso: de agora em diante não comerás nunca os meus filhotes.
— Muito bem. Mas como
posso distinguir os teus filhotes?
— Coisa fácil. Sempre que
encontrares uns borrachos lindos, bem feitinhos de corpo, alegres, cheios de
uma graça especial, que não existe em filhote de nenhuma outra ave, já sabes,
são os meus.
— Está feito! — concluiu
a águia.
Dias depois, andando à
caça, a águia encontrou um ninho com três monstrengos dentro, que piavam de
bico muito aberto.
— Horríveis bichos! —
disse ela. — Vê-se logo que não são os filhos da coruja.
E comeu-os.
Mas eram os filhos da
coruja. Ao regressar à toca a triste mãe chorou amargamente o desastre e foi
ajustar contas com a rainha das aves.
— Quê? — disse esta
admirada. — Eram teus filhos aqueles monstrenguinhos? Pois, olha não se
pareciam nada com o retrato que deles me fizeste…
Moral da história: Para retrato de filho ninguém
acredite em pintor pai. Já diz o ditado: quem ama o feio, bonito lhe parece.
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