O talismã
conto de Hans Christian
Andersen
Dois
habitantes da mesma cidade exerciam nela a mesma indústria, mas com resultados
bem diversos; um enriquecia-se e o outro arruinava-se, o que não era de
espantar, porque o primeiro zelava os seus negócios com uma actividade infatigável,
enquanto que o segundo, entregue inteiramente aos seus prazeres, encarregava os
estranhos da direcção da sua casa.
«Explica-me,
disse um dia este último ao seu colega, qual é a razão porque a sorte nos trata
de um modo tão diferente? Vendemos as mesmas mercadorias, a minha loja está tão
bem situada como a tua, e apesar disso, enquanto tu ganhas, eu não faço senão
perder. E não é porque eu seja estroina; não bebo, nem jogo. Já tenho pensado
algumas vezes se não terás tu por acaso algum precioso talismã.»
«Efectivamente,
respondeu o outro, herdei de meu pai um talismã de uma virtude incomparável.
Trago-o ao pescoço, e ando assim com ele todo o dia por toda a casa, do celeiro
para a adega, e da adega para o celeiro. E o caso é que tudo me corre
perfeitamente.»
«Olé meu
querido colega, empresta-me pelo amor de Deus essa relíquia preciosa de que
tanto necessito; podes ter a certeza de que ta restituo.»
«Pois vem
buscá-la amanhã de manhã.»
Quando ao
outro dia foi procurar o seu generoso concorrente, apresentou-lhe este uma
avelã, através da qual tinha passado um fio de seda.
O nosso homem
a colocou imediatamente no pescoço, e começou a correr toda a casa com o
talismã. Observou então a completa desordem que por toda a parte ali havia. Na
adega faltava-lhe vinho, cerveja e azeite; na cozinha o pão, a carne e os
legumes; no celeiro, o milho, o trigo, o feijão; na estribaria, o feno e a
aveia, roubados das manjedouras dos cavalos; viu, finalmente, como os seus
livros e registros estavam mal escriturados; viu tudo isto, e que era
necessário dar-lhe remédio, compreendendo que o dono da casa nunca pode ser
substituído por terceira pessoa na direcção dos seus negócios.
Passados
alguns dias foi entregar ao dono o precioso talismã, agradecendo-lhe
duplamente, em primeiro lugar, o seu bom conselho, e em segundo lugar, a
maneira delicada porque lho tinha dado.
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