Deus nunca morre
conto de Hans Christian
Andersen
Era uma manhã de domingo. O sol
resplandecia ardente e calorosamente no ambiente, assim como o ar, suave e
refrescante, entrava pela janela que estava aberta. E lá fora, sob o céu azul
de Deus, onde os campos e as pradarinas estavam vestidos de verde e de flores,
todos os passarinhos brincavam felizes. Enquanto a alegria e a felicidade
faziam festa por todos os cantos, na casa, a miséria e a tristeza lhes tiravam
a paz. Até mesmo a esposa, que estava sempre bem humorada, se sentou naquela
manhã à mesa do café matinal com uma expressão de tristeza; até que ela se
levantou da mesa, sem sequer ter tocado um dedo na comida, secou os olhos
entristecidos, e caminhou em direção à porta.
Estava tudo parecendo como se um
grande pesadelo pairasse sobre aquela casa. O custo de vida era alto, o
suprimento de alimentos baixo; os impostos estavam cada vez mais altos; e ano
após ano os bens domésticos ficavam cada vez mais desvalorizados, e agora,
então, a paisagem que se desenhava para eles era apenas de pobreza e miséria.
Há muito tempo que tudo isso preocupava intensamente o seu marido, que sempre
pautou pelo trabalho constante e sempre fora um cidadão cumpridor das leis; mas
agora a perspectiva do futuro deixava-o desesperado; sim, e algumas vezes, até
ameaçava por fim à existência miserável e sem esperança. Nem as palavras
consoladoras de sua esposa cheia de fé e confiança, nem o apoio material e
espiritual de seus amigos o ajudavam; isso servia apenas para torná-lo mais
silencioso e infeliz. Era fácil entender porque a sua esposa havia perdido a
coragem, também. Todavia, uma outra razão havia para a sua grande tristeza, e
que logo ficaremos sabendo.
Quando o marido observou que a sua
esposa sofria muito e queria sair da sala, ele parou diante dela e disse,
"Não deixarei você ir até que me diga o que há de errado com você!"
Depois de um minuto de silêncio, ela
suspirou e disse, "Oh, meu querido marido, ontem à noite eu sonhei que
Deus havia morrido, e que todos os anjos do céu seguiam-lhe até a
sepultura!"
"Como é que você pode acreditar
ou pensar nessas tolices!" respondeu o marido. "Você sabe,
naturalmente, que Deus nunca morre!"
O rosto da esposa dedicada luziu de
felicidade, e enquanto afetuosamente apertava a mão do marido, ela exclamou,
"Então, o nosso Deus ainda vive!"
"É claro que ele está
vivo," disse o marido. "Como é que você pode duvidar disso!"
Então, ela o abraçou, e o observava
com olhos apaixonados, que expressavam confiança, paz, e felicidade, quando ela
disse, "Mas, meu querido marido, se Deus ainda está vivo, porque nós não
acreditamos e confiamos nele! Ele sabe até quantos cabelos temos em nossas
cabeças; e nenhum deles se perde sem o Seu conhecimento. Ele veste os lírios do
campo; alimenta os pardais e os abutres."
Isso foi como se um véu fosse
levantado de seus olhos e como se um peso muito grande caísse de seu coração
quando ela disse essas palavras. Ele sorriu pela primeira vez depois de muito
tempo, e agradeceu à sua esposa amada e piedosa pelo susto que lhe havia
pregado, e através do qual a sua fé em Deus renasceu e a sua confiança foi
restaurada. E na sala o sol brilhava com mais calor sobre o rosto das pessoas
felizes; uma brisa suave afagava os rostos sorridentes, e os pássaros cantavam
cada vez mais alto seus sinceros agradecimentos a Deus.
Sem comentários :
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.