O Flautista de Hamelin
conto de Joseph Jacobs
Há muito, muitíssimo
tempo, na próspera cidade de Hamelin, aconteceu algo muito estranho: uma manhã,
quando seus gordos e satisfeitos habitantes saíram de suas casas, encontraram
as ruas invadidas por milhares de ratos que iam devorando, insaciáveis, os
grãos dos celeiros e a comida de suas bem providas despensas.
Ninguém conseguia imaginar a causa de tal invasão e, o que era pior, ninguém sabia o que fazer para acabar com tão inquietante praga.
Ninguém conseguia imaginar a causa de tal invasão e, o que era pior, ninguém sabia o que fazer para acabar com tão inquietante praga.
Por mais que tentassem
exterminá-los, ou ao menos afugentá-los, parecia ao contrário que mais e mais
ratos apareciam na cidade. Tal era a quantidade de ratos que, dia após dia,
começaram a esvaziar as ruas e as casas, e até mesmo os gatos fugiram
assustados.
Diante da gravidade da
situação, os homens importantes da cidade, vendo perigar suas riquezas pela
voracidade dos ratos, convocaram o conselho e disseram: Daremos cem moedas de
ouro a quem nos livrar dos ratos.
Pouco depois se
apresentou a eles um flautista taciturno, alto e desengonçado, a quem ninguém
havia visto antes, e lhes disse: “A recompensa será minha. Esta noite não
haverá um só rato em Hamelin”.
Dito isso, começou a
andar pelas ruas e, enquanto passeava, tocava com sua flauta uma melodia
maravilhosa, que encantava aos ratos, que iam saindo de seus esconderijos e
seguiam hipnotizados os passos do flautista que tocava incessantemente.
E assim ia caminhando e tocando, levou-os a um lugar muito
distante, tanto que nem sequer poderiam ver as muralhas da cidade.
Por aquele lugar passava um
caudaloso rio onde, ao tentar cruzar para seguir o flautista, todos os ratos
morreram afogados.
Os hamelineses, ao se verem livres
das vorazes tropas de ratos, respiraram aliviados. E, tranquilos e satisfeitos,
voltaram aos seus prósperos negócios e tão contente estavam que organizaram uma
grande festa para celebrar o final feliz, comendo excelentes manjares e
dançando até altas horas da noite.
Na manhã seguinte, o flautista se
apresentou ante o Conselho e reclamou aos importantes da cidade as cem moedas
de ouro prometidas como recompensa. Porém esses, liberados de seu problema e
cegos por sua avareza, reclamaram: “Saia de nossa cidade! Ou acaso acreditas
que te pagaremos tanto ouro por tão pouca coisa como tocar a flauta?”.
E, dito isso, os honrados homens do
Conselho de Hamelin deram-lhe as costas dando grandes gargalhadas.
Furioso pela avareza e ingratidão
dos hamelinenses, o flautista, da mesma forma que fizera no dia anterior, tocou
uma doce melodia uma e outra vez, insistentemente.
Porem esta vez não eram os ratos que o seguiam, e sim as crianças da cidade que, arrebatadas por aquele som maravilhoso, iam atrás dos passos do estranho músico.
De mãos dadas e sorridentes, formavam uma grande fileira, surda aos pedidos e gritos de seus pais que, em vão, entre soluços de desespero, tentavam impedir que seguissem o flautista.
Porem esta vez não eram os ratos que o seguiam, e sim as crianças da cidade que, arrebatadas por aquele som maravilhoso, iam atrás dos passos do estranho músico.
De mãos dadas e sorridentes, formavam uma grande fileira, surda aos pedidos e gritos de seus pais que, em vão, entre soluços de desespero, tentavam impedir que seguissem o flautista.
Nada conseguiram e o flautista os
levou longe, muito longe, tão longe que ninguém poderia supor onde, e as
crianças, como os ratos, nunca mais voltaram.
E na cidade só ficaram a seus opulentos habitantes e seus bem repletos celeiros e bem cheias despensas, protegidas por suas sólidas muralhas e um imenso manto de silêncio e tristeza.
E na cidade só ficaram a seus opulentos habitantes e seus bem repletos celeiros e bem cheias despensas, protegidas por suas sólidas muralhas e um imenso manto de silêncio e tristeza.
E foi isso que se sucedeu há muitos,
muitos anos, na deserta e vazia cidade de Hamelin, onde, por mais que se
procure, nunca se encontra nem um rato, nem uma criança.
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