O homem e a cobra - Fábula de Monteiro Lobato
Certo homem de bom
coração encontrou na estrada uma cobra entanguida de frio.
- Coitadinha! Se fica por
aqui ao relento, morre gelada.
Tomou-a nas mãos,
conchegou-a ao peito e trouxe-a para casa. Lá a pôs perto do fogão.
- Fica-te por aqui em paz
até que volte do serviço à noite. Dar-te-ei então um ratinho para a ceia. E
saiu.
De noite, ao regressar,
veio pelo caminho imaginando as festas que lhe faria a cobra.
- Coitadinha! Vai
agradecer-me tanto...
Agradecer, nada! A cobra,
já desentorpecida, recebeu-o de linguinha de fora e bote armado, em atitude tão
ameaçadora que o homem enfurecido exclamou:
- Ah, é assim? É assim
que pagas o benefício que te fiz? Pois espera, minha ingrata, que já te curo...
E deu cabo dela com uma
paulada.
Fazei o bem, mas olhe a quem.
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