A Cotovia - Fábulas de Leonardo Da Vinci
Era uma vez um velho
eremita que morava numa floresta com apenas um companheiro, um pássaro chamado
cotovia.
Um dia dois mensageiros
foram procurar o velho eremita para pedir-lhe que os acompanhasse ao palácio de
seu amo, que estava gravemente enfermo.
O velho, seguido pela
cotovia, partiu com os mensageiros e fizeram-no entrar imediatamente no quarto
do homem doente. Quatro médicos balançavam a cabeça, fazendo comentários em voz
baixa entre si.
-Não ha mais nada a
fazer, murmurou o que parecia ser o mais importante-Infelizmente ele está
morrendo.
O velho eremita em pé
junto à porta, observava a cotovia, que pousara no peitoril da janela e olhava
fixamente para o doente.
-Ele vai viver, disse o
eremita.
- Mas como pode este
camponês fazer uma afirmação dessas? exclamaram os médicos em coro.
O doente abriu os olhos,
viu a cotovia olhando-o fixamente e esboçou um sorriso. Pouco a pouco a cor foi
voltando ao seu rosto, suas forças retornaram e, para assombro de todos os
presentes disse: - estou me sentindo um pouco melhor.
Tempos depois, o nobre do
palácio, totalmente recuperado, foi à floresta para agradecer ao eremita.
-Não agradeça a mim,
disse o eremita. -Foi o pássaro quem o curou. A cotovia, acrescentou ele, é um pássaro
muito sensível. Ao ser colocada junto a uma pessoa doente, se ela virar a
cabeça e não olhar para o doente, isso significa que não há esperança. Mas se
olhar para o doente, como olhou para o senhor, quer dizer que o paciente não
vai morrer. Na realidade a cotovia, através do olhar ajuda a recuperação.
Assim como a sensível
cotovia, o amor da virtude não olha para coisas vís, sombrias, mas procura tudo
o que é nobre e honrado. O pássaro habita o bosque florido, e a virtude habita
o coração nobre.
Leonardo da Vinci
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