A Noz e o Campanário - Fábulas de Leonardo Da Vinci
Um corvo pegou uma noz e
levou-a para o topo de um alto campanário. Segurando a noz com as patas começou
a bicá-la para abri-la. Porém subitamente a noz rolou para baixo e desapareceu
numa fresta do muro.
- Muro, meu bom muro -
suplicou a noz, percebendo que estava livre do bico do corvo - pelo amor de
Deus, que foi tão bom para você, fazendo-o alto e forte, e enriquecendo-o com
esses belos sinos de tão belo som, salve-me, tenha pena de mim! Meu destino era
cair entre os velhos ramos de meu pai - prosseguiu a noz - permanecer no rico
solo coberto de folhas amarelas. Por favor, não me abandone! Quando eu estava
sendo atacada pelo terrível bico daquele corvo feroz, fiz um voto. Prometi que,
se Deus me permitisse escapar, eu passaria o resto de minha vida dentro de uma
frestinha.
Os sinos, num doce
murmúrio, avisaram o campanário que tomasse cuidado porque a noz podia ser
perigosa. Porém o muro, teve compaixão e decidiu abrigá-la, deixando-a ficar
onde havia caído.
Porém dentro em breve a
noz começou a abrir e a estender raízes nas frestas da pedra. Em seguida as
raízes forçaram caminho por entre os blocos de pedra e surgiram galhos que
saíam pela fresta. Os galhos cresceram, tornaram-se mais fortes e estenderam-se
para o alto, acima do topo da torre. E as raízes, grossas e enroscadas,
começaram a fazer buracos nos muros, empurrando para fora todas as velhas
pedras.
O muro percebeu, tarde
demais, que a humildade da noz e seu voto de ficar escondida numa fresta não
eram sinceros. E arrependeu-se de não ter dado ouvido aos sinos.
A nogueira continuou a
crescer e o muro, o pobre muro, desmoronou e ruiu.
Leonardo da Vinci
Sem comentários :
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.