quinta-feira

O Galo Recebe uma Coroa Vermelha, Conto Chinês


O Galo Recebe uma Coroa Vermelha

 Conto Chinês

Numa terra longínqua, no extremo oeste da China, a tribo de Miao, das altas montanhas, assistem ao sol se por atrás das montanhas do Tibet, e enquanto as sombras se alongam pelos campos, eles se reúnem para escutar ao contador de histórias que conta e reconta as lendas da tribo.
Há muito, muito tempo, quando o mundo havia acabado de ser feito, estas terras tinham seis sóis brilhando nos céus! Porém, numa certa primavera, após os fazendeiros trabalharem arduamente para fazer o plantio, as chuvas se recusaram a vir em seu tempo, e os sóis acabaram por secar toda a plantação.
Naquela época, o grande Imperador Yao governava a China. Quando ele viu esse desastre natural, ele se entristeceu muito, e seus conselheiros disseram:
Se os seis sóis continuarem a brilhar dessa forma, nosso povo certamente morrerá.
E os seis sóis continuaram a se levantar todas as manhãs e a queimar as plantações.
Então, os dez sábios do vilarejo se reuniram para discutir o que haveria de ser feito. Ao meio da conversa, um dos sábios disse:
-    A única solução é atirar e matar cada um deles.
O Imperador Yao ficou sabendo sobre tal resolução e mandou seus conselheiros reunirem os melhores arqueiros da região e trazê-los ao palácio. O que foi feito. Ali se reuniram os melhores e mais fortes arqueiros de toda a China, orgulhosos em poderem servir ao grande Imperador Yao.
O povo do vilarejo e os dez sábios se reuniram para assistir à demonstração de habilidade dos arqueiros, e assim que o Imperador chegou, eles lançaram suas flechas. Mas apesar de seus arcos serem grandes e suas flechas rápidas, nenhum deles conseguiu chegar sequer à metade da distância até os seis sóis causticantes que brilhavam nos céus.
Humildemente, os arqueiros aceitaram a impossibilidade de atingir os sóis com suas flechas.
Então, o Imperador Yao convocou o Príncipe Ho-Yi, que era conhecido como o melhor arqueiro de toda a China e propôs o desafio.
Mais uma vez, o povo se reuniu para assistir á demonstração da habilidade do arqueiro.
O Imperador ordenou:
-    Lance as seis flechas e destrua os seis sóis para salvar o meu povo.
Naquele momento, o Príncipe Ho-Yi viu os seis sóis refletidos no lago e pensou, “Talvez eu possa destrui-los por seus reflexos, onde minhas flechas certamente alcançam”. E lançou a primeira flecha em direção ao reflexo do primeiro sol, que ao ser atingido, afundou nas águas do lago. E continuou a lançar suas flechas sobre o segundo, o terceiro, até que chegou ao quinto sol.
Quando o sexto sol se deu conta do que estava se passando, ele rapidamente desapareceu num monte ali próximo. Os dez sábios se deram por contentes que os seis sóis haviam sido destruídos, e as pessoas retornaram às suas casas.
Porém, quando as pessoas acordaram após uma longa noite de sono, não havia “dia seguinte”, pois o sexto sol ainda estava com medo e não sairia da caverna em que havia se escondido. Então, os dez sábios se reuniram novamente, na escuridão, para determinar o que poderia ser feito. Decidiram que achariam alguém que conseguisse trazer o sexto sol para fora da caverna para que pudesse haver o “dia seguinte”.
Primeiro, trouxeram o tigre para que rugisse em frente a caverna. O tigre rugiu, rugiu e rugiu, mas o sexto sol ficou enraivecido, pois de nada apreciava aquele rugido barulhento, e disse:
-    Eu não vou sair!
Então levaram um boi, e o boi mugiu, mugiu e mugiu, mas agora, além de irritado, o sol começou a ficar deprimido com o mugido do boi, e disse:
-    Eu não vou sair, e essa é a minha palavra final!
E também foram levados o carneiro, o macaco, o cão e o porco, mas todo o esforço parecia piorar a situação.
Por fim, decidiram levar um belo e forte galo para que cacarejasse. Quando o galo cantou, o sol disse:
-    Mas que som adorável!
E saiu da caverna para ver que animal magnífico poderia produzir tal música para seus ouvidos. E ao sair, o sol brilhou mais uma vez, e as pessoas festejavam ao ver que o sol finalmente estava de volta ao horizonte.
O sol ficou tão lisonjeado com o canto do galo que ele mesmo confeccionou uma coroa vermelha para que ficasse ainda mais magnífico e majestoso.

E todas as manhãs, a partir daquele dia, o galo tem usado sua coroa vermelha para dar as boas vindas ao dia seguinte, cantando, e para que o sol se alegre e perca o medo de brilhar nas alturas mais uma vez.

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