Ovos frescos
Era uma
vez um açafate com ovos. Puseram-se à conversa. Eram ovos ainda frescos e
tinham ambições. Um deles disse:
- Quem
me dera a mim fazer-me em fios de ovos, a enfeitar um bolo...
- Não
está má a pretensão - comentou um outro. - Pois eu preferia ajudar umas fatias
douradas a ficar mais douradinhas.
-
Fritos, não - cortou um terceiro. - Mas, numa gemada com açúcar, já eu entrava
com gosto.
Outro
ovo confessou:
-
Gostava tanto de ser ovo estrelado. Estrelado vem de estrela... Deve ser
bonito. Mas, não podendo ser, qualquer uso serve. Um ovo nunca passa
despercebido.
Só
faltava um.
- E tu o
que queres ser? - perguntaram os outros.
- O ovo
de Colombo.
Vamos
fazer-lhe a vontade.
Como
vocês sabem, Cristóvão Colombo descobriu a América. Quando regressou a Espanha,
trazendo a notícia da sua descoberta, os fidalgos da corte, invejosos,
desdenharam do feito. Isso também eles eram capazes. Bastava lá ir. Então,
Colombo mostrou-lhes um ovo e disse-lhes:
-
Ponham-no de pé.
Eles
tentaram. Insistiram. Obstinaram-se.
- Não é
possível - concluíram.
- Pois
eu consigo - disse Colombo.
Muito ao
de leve, bateu na mesa com a parte mais redonda e cheia do ovo, a casca
amolgou-se, mas só um bocadinho, e o ovo ficou de pé.
- Que
fácil - comentaram os fidalgos. - Isso também nós éramos capazes.
- Mas
não o fizeram. Quem pôs o ovo de pé, quem descobriu um novo continente fui eu.
Cabe-me o mérito a mim.
Aqui têm
como eu fiz a vontade ao ovo que queria ser ovo de Colombo.
E agora?
Agora, já satisfeito, vai juntar-se aos outros e, todos juntos, vão fazer uma
omeleta.
António
Torrado
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