Laura e o papagaio
O que eu
vou contar, li no jornal. Era uma notícia. Passa a ser uma história.
Um
senhora, chamada Laura, tinha uma sapataria. Para atrair a clientela, trouxera
de casa um papagaio exótico e multicolor, uma raridade em forma de papagaio.
Uma vez,
a loja foi assaltada. O ladrão, entre outros valores, levou-lhe o papagaio, a
atracção da loja, por assim dizer o emblema vivo da sapataria.
A
senhora Laura ficou desolada.
- Podiam
ter-me roubado tudo, menos o papagaio - lamentava-se ela a toda a gente.
Na
cidade onde isto se passou, o caso foi comentado. Aconteceu que uns garotos,
que andavam pelos arredores, a apanhar caracóis, ouviram, vindo de um casebre
isolado, uma vozinha inconfundível gritar:
- Laura!
Laura! Laura!
Foram
fazer queixa à esquadra. Vieram uma quantidade de polícias, que cercaram a
casa, e atrás deles a dona da loja. Quando entraram no casebre e viram o
papagaio, deram logo ordem de prisão ao vagabundo, que lá vivia.
Ele
tentou desculpar-se, dizendo que tinha encontrado o papagaio, empoleirado numa
vedação, mas as botas impecavelmente novas que o homem ostentava não deixaram
margem para dúvidas.
Quando a
senhora da sapataria, de olhos lacrimejantes, entrou, por sua vez, na casa do
ladrão, o papagaio exclamou:
- Laura,
Laura, até que enfim.
A
história acaba bem, menos para o ladrão.
Comentário
de um dos polícias que participou na captura: ?Quem rouba um papagaio que fala,
o melhor é ensiná-lo a calar-se..."
António
Torrado
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