Quem ajuda o pardalito?
Era um
passarinho caído do ninho. Mais precisamente um pardal, um pardalito tontelas,
de asas molhadas de medo.
Os
irmãos tinham-no empurrado, sem querer, e ali estava ele, a pisar pela primeira
vez o chão áspero que lhe feria o macio das patas. Dava saltinhos, a ensaiar o
voo, mas ainda estava longe de saber voar. Que ia ser dele?
Viu uma
formiga, a correr de um lado para o outro, e pediu-lhe, num fiozinho de choro:
-
Ajuda-me.
Ela nem
lhe respondeu, atarefada que andava, lá na vida dela.
Viu um
besouro, a voar em círculos, e pediu-lhe:
-
Ajuda-me.
Mas o
besouro, talvez por culpa do motor barulhento que o sustinha no ar, nem lhe
ligou.
Viu uma
andorinha nem que uma seta, a rasar o chão, e pediu-lhe:
-
Ajuda-me.
Mas já a
andorinha ia muito longe, a apagar-se no céu.
Que ia
ser dele?
Havia de
vir um gato e dar-lhe uma sapatada.
Havia de
vir uma cobra e dar-lhe uma picada.
Havia de
vir um cão e dar-lhe uma dentada.
Mas veio
uma menina que andava a colher amoras para dentro do chapéu de lona, e levou-o
com ela.
O
pardalito nem se atrevera a pedir-lhe ajuda. Ela é que o achara e ameigara nas
mãos em concha, como se fosse em ninho.
Levou-o
para casa. Deu-lhe pãozinho. Deu-lhe miminhos.
Eu
conheço essa menina. E também o pardalito, agora um pardal pardalão que não se
cansa de voar.
Mas por
onde quer que ande, no seu agitado voo de pardal aventureiro, de uma coisa se
não esquece. Todos os dias, à mesma hora, bate com o bico na vidraça da janela.
A menina abre-a e dá-lhe as migalhas da merenda. Depois, o atrevido salta-lhe
para o ombro e pica-lhe, num desafio de ternura, a polpa da orelha. A menina
encolhe-se num riso e ele foge a gorjear de alegria.
António
Torrado
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