A Amoreira - Fábulas de Leonardo Da Vinci
A pobre amoreira não
suportava mais aquilo. Agora, que seus galhos estavam novamente carregados de
amoras, os insolentes melros bicavam e estragavam todos os ramos com o bico e
com as patas.
- Por favor - suplicou a
amoreira, dirigindo-se ao melro mais importuno - poupe ao menos minhas folhas!
Sei que vocês gostam muito dos meus frutos, que são seus preferidos. Porém não
me privem da sombra de minhas folhas, que me protegem contra os raios do Sol. E
não me estraguem com as patas, não arranquem minha casca macia.
A essas palavras o melro,
ofendido, respondeu:
- Silêncio, sua
mal-educada! Você não sabe que a natureza fez você produzir essas frutas apenas
para me alimentar? Não sabe, sua estúpida, que quando chegar o inverno você vai
servir apenas para alimentar o fogo?
Ao ouvir essas palavras a
amoreira pôs-se a chorar baixinho.
Algum tempo depois o
insolente melro caiu numa armadilha preparada por um homem. A fim de construir
uma gaiola para o pássaro, o homem cortou os galhos de uma sebe, e coube à
amoreira fornecer a madeira para as barras da gaiola.
- Oh! Melro, disse a
amoreira - ainda estou aqui. Quando você era livre vinha me importunar, e agora
são meus galhos que impedem sua liberdade. Ainda não fui consumida pelo fogo,
como você disse que ia acontecer. Você não me viu queimada, mas eu estou vendo
você prisioneiro.
Leonardo da Vinci
Sem comentários :
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.