As duas cachorras – Fábula de Monteiro Lobato
Moravam no mesmo bairro.
Uma era boa e caridosa; outra, má e ingrata.
A boa, como fosse
diligente, tinha a casa bem arranjadinha; a má, como fosse vagabunda, vivia ao
léu, sem eira nem beira.
Certa vez… a má, em
véspera de dar cria, foi pedir agasalho à boa:
– Fico aqui num cantinho
até que meus filhotes possam sair comigo. É por eles que peço…
A boa cedeu-lhe a casa
inteira, generosamente.
Nasceu a ninhada, e os
cachorrinhos já estavam de olhos abertos quando a dona da casa voltou.
– Podes entregar-me a
casa agora?
A má pôs-se a
choramingar.
– Ainda não, generosa
amiga. Como posso viver na rua com filhinhos tão novos? Conceda-me um novo
prazo.
A boa concedeu mais
quinze dias, ao termo dos quais voltou.
– Vai sair agora?
– Paciência, minha velha,
preciso de mais um mês.
A boa concedeu mais
quinze dias; e ao terminar o último prazo voltou.
Mas desta vez a intrusa,
rodeada dos filhos já crescidos, robustos e de dentes arreganhados, recebeu-a
com insolência:
– Quer a casa? Pois venha
tomá-la, se é capaz…
Moral da Estória:
Para os maus, pau!
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