O cavalo e o burro
Monteiro Lobato
O cavalo e o burro
seguiam juntos para a cidade. O cavalo
contente da vida, folgando com uma carga de quatro arrobas apenas, e o burro —
coitado! gemendo sob o peso de
oito. Em certo ponto, o burro parou e
disse:
– Não posso mais! Esta carga excede às minhas forças e o
remédio é repartirmos o peso irmãmente, seis arrobas para cada um.
O cavalo deu um pinote e
relichou uma gargalhada.
– Ingênuo! Quer então que eu arque com seis arrobas
quando posso tão bem continuar com as quatro?
Tenho cara de tolo?
O burro gemeu:
– Egoísta, Lembre-se que se eu morrer você terá que
seguir com a carga de quatro arrobas e mais a minha.
O cavalo pilheriou de
novo e a coisa ficou por isso. Logo
adiante, porém, o burro tropica, vem ao chão e rebenta.
Chegam os tropeiros,
maldizem a sorte e sem demora arrumam com as oito arrobas do burro sobre as
quatro do cavalo egoísta. E como o
cavalo refuga, dão-lhe de chicote em cima, sem dó nem piedade.
– Bem feito! exclamou o papagaio. Quem mandou ser mais burro que o pobre burro
e não compreender que o verdadeiro egoísmo era aliviá-lo da carga em
excesso? Tome! Gema dobrado agora…
***
Em: Criança
Brasileira, Theobaldo Miranda Santos, Quarto Livro de Leitura: de acordo com os
novos programas do ensino primário. Rio
de Janeiro, Agir: 1949.
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