A mesa mágica o asno que cuspia ouro e o porrete dentro do saco
contos dos irmãos Grimm
Era uma vez um alfaiate
que tinha três filhos, e apenas uma cabra. Mas como a cabra alimentava com o
seu leite toda a família, ela era obrigada a se alimentar bem, e tinha de ser
levada todos os dias para pastar. Os filhos, portanto, tinham de fazer esse trabalho,
por sua vez. Uma vez o filho mais velho a levou até um terreno que ficava em
frente ao cemitério, onde as ervas mais finas podiam ser encontradas, e a cabra
ficava comendo e correndo pelas imediações. À noite, quando era hora de ir para
casa, ele perguntou, "Cabra, você está satisfeita?" A cabra
respondia,
"E já comi o
bastante,
Não consigo tocar nem uma
folha mais, mé! mé!"
"Vamos para casa,
então,"disse o jovem, e pegou a corda que estava amarrada no pescoço da
cabra, e a levou para o estábulo e ali a amarrou com segurança.
"Bem," disse o velho alfaiate, "será que a cabra comeu mesmo
tudo o que ela devia?" "Oh," respondeu o filho, "ela comeu
tanto, que nem uma folha mais ela conseguiria tocar." Mas o pai quis
verificar ele mesmo se isto era verdade, e foi até o estábulo, tocou levemente
o belo animal e perguntou, "Cabra, você está satisfeita?" A cabra
respondeu,
"Porquê eu estaria
satisfeita?
Por entre os túmulos eu
saltei.
E não encontrei nenhum
alimento, então viemos embora, mé! mé!"
"O que estou
ouvindo?" exclamou o alfaiate, e subindo as escadas, procurou pelo filho
mais velho, "E então, seu mentiroso; você me disse que a cabra havia
comido bastante, e no entanto ela está com fome!" e todo furioso pegou a
vara de medida que estava na parede, e o expulsou de casa a bordoadas.
No dia seguinte era a vez
do segundo filho, que encontrou um lugar próximo da cerca do jardim, onde
crescia somente ervas saborosas, e a cabra comeu todas elas. À noite, quando
ele quis ir para casa, ele perguntou, "Cabra, você está satisfeita?"
A cabra respondeu,
"Já comi o bastante,
Nem mais uma folha mais
consigo tocar, mé! mé!"
"Vamos para casa,
então," disse o jovem, e a levou para casa, e a deixou amarrada dentro do
estábulo. "Bem," disse o velho alfaiate, "a cabra comeu todo
mato que ela precisava?" "Oh," respondeu o filho, "ela
comeu tanto que nem uma folha mais ela conseguia tocar." O alfaite não
confiou no que ele disse, e desceu até o estábulo e disse, "Cabra, você
comeu o bastante?" A cabra respondeu,
"Porquê eu estaria
satisfeita?
Por entre os túmulos eu
fiquei saltando.
E não encontrei comida,
então voltamos sem comer, mé! mé!"
"Mas que filho
desalmado!" exclamou o alfaiate, "deixar um animal tão bom passando
fome," e ele subiu e expulsou o jovem para fora de casa com a vara de
medir.
Agora, havia chegado a
vez do terceiro filho, que queria fazer a coisa corretamente, e procurou alguns
arbustos e também as folhas mais finas, para que a cabra se fartasse. À noite,
quando ele queria ir para casa, ele perguntou, "Cabra, você já comeu o
suficiente?" A cabra respondeu,
"Já comi o bastante,
Nem mais uma folha mais
consigo tocar, mé! mé!"
"Vamos para casa,
então," disse o jovem, e a levou para o estábulo, e a deixou amarrada.
"E então," disse o velho alfaiate, "a cabra comeu uma quantidade
suficiente de ervas?" "Ela comeu tudo, nem uma folha mais ela
conseguia tocar." O alfaiate não confiou no que o seu filho falava, e
desceu até onde a cabra se encontrava e perguntou, "Cabra, você comeu o
suficiente?" O animal perverso respondeu,
"Porquê eu estaria
satisfeita?
Por entre os túmulos eu
fiquei saltando.
E não encontrei comida,
então voltamos sem comer, mé! mé!"
"Oh, bando de
mentirosos!" exclamou o alfaiate, "todos eles são maldosos e
desatentos com o dever, tanto um como os outros! Vocês não vão mais me fazer de
tolo," e tomado de rancor, subiu correndo as escadas e surrou o pobre
garoto tão forte com a vara de medir que ele fugiu para fora de casa.
O velho alfaiate agora
estava sozinho com a sua cabra. Na manhã seguinte ele desceu até o estábulo, fez
um carinho na cabra e disse, "Venha, minha querida cabritinha, eu mesmo
vou levá-la para pastar hoje." Ela a puxou pela corda e a conduziu até
algumas cercas vivas, onde havia algumas aquiléias, e todas as outras ervas que
as cabras gostam tanto. "Lá você poderá pela primeira vez comer tudo que o
você tiver vontade," disse ele à cabra, e assim ela ficou pastando até o
anoitecer. Então ele perguntou, "Cabra, você está satisfeita?". Ela
respondeu,
"Já comi o bastante,
Nem mais uma folha mais
consigo tocar, mé! mé!"
"Vamos para casa,
então," disse o alfaiate, e a levou para o estábulo, e a amarrou bem
amarrado. Quando ele estava indo embora, ele se voltou novamente e disse,
"Bem, pela primeira vez você está satisfeita?" Mas a cabra não se
comportou melhor com ele, e exclamou,
"Porquê eu estaria
satisfeita?
Por entre os túmulos eu
fiquei saltando.
E não encontrei comida,
então voltamos sem comer, mé! mé!"
Quando o alfaiate ouviu
isso, ele ficou indignado, e viu claramente que ele tinha expulsado seus três
filhos sem um motivo justo. "Espere, sua criatura ingrata," exclamou
ele, "não basta expulsar você daqui, eu te deixarei uma lembrança que você
jamais irá se atrever a aparecer diante de alfaiates honestos."
Mais que depressa ele
subiu correndo das escadas, pegou a sua navalha de barbear, ensaboou o pescoço
da cabra, e a deixou peladinha na cabeça assim como a palma da sua mão. E como
a vara de medir seria muito suave para ela, ele pegou o chicote que usava no
cavalo, e lenhou as costas do animal que fugiu em desabalada corrida.
Quando o alfaiate se viu
sozinho dentro de casa, ele sentiu uma tristeza muito grande, e sentiu vontade
de ter seus filhos de volta novamente, mas ninguém sabia para onde eles tinham
ido. O mais velho aprendeu sozinho a função de marceneiro, e era muito criativo
e incansável, e quando chegou a sua vez de ir viajar, o seu amo o presenteou
com uma mesinha que não tinha nada de especial, e que era feita de madeira
comum, mas ela tinha uma caraterística especial; se alguém ficasse diante dela,
e dissesse,
"Mesinha,
sirva-me," a boa e pequena mesa imediatamente ficava coberta com uma
toalha pequena e limpa, e lá estava uma travessa, e uma faca e um garfo ao lado
dele, e pratos com carnes e assados quentinhos, tanto quanto houvesse espaço
para isso, um grande copo de vinho tinto cheio que fazia o seu coração pular de
alegria.
O jovem viajante pensou,
"Eu terei o bastante para viver toda a minha vida," e assim saiu
alegre pelo mundo sem nunca ter de se preocupar com nada, ou se uma estalagem
era de boa qualidade ou não, ou se ele viesse a precisar de alguma coisa ou não.
Sempre que desejasse ele
não entrava de modo algum numa estalagem, mas se ele estive numa planície, na
floresta, no campo, ou onde quer que ele imaginasse, ele pegava a sua mesinha
que carregava nas costas, colocava-a diante de si, e dizia, "Mesa,
sirva-me," e tudo o que ele desejava aparecia estendido sobre a mesa.
Por fim, ele colocou na
cabeça que desejava voltar para o seu pai, pois toda a raiva agora já devia ter
passado, e que agora ele o receberia de braços abertos com a sua mesa mágica. E
aconteceu que ao retornar para casa, ele chegou numa noite a uma estalagem que
estava repleta de hóspedes.
Eles lhe deram as boas
vindas, e o convidaram para se sentar e comer com eles, pois caso achavam que
ele não tinha o que comer. "Não," respondeu o marceneiro, "Eu
não vou tirar de vocês nada do que vocês estão comendo; muito pelo contrário,
vocês serão meus convidados."
Eles acharam engraçado, e
pensaram que ele apenas estava brincando com eles; todavia, ele posicionou a
pequena mesa de madeira no meio do recinto, e disse, "Mesinha,
sirva-nos." E instantaneamente a mesa ficou coberta de alimentos, tão
deliciosos que os hóspedes jamais poderiam conseguir, e o cheiro dos pratos
alcançava agradavelmente o nariz dos presentes.
"Podem comer,
queridos amigos," disse o marceneiro; e os hóspedes, quando ouviram o que
ele havia dito, não foi preciso repetir duas vezes, mas se aproximaram, puxaram
suas facas e começaram a devorar tudo furiosamente. E o que mais os surpreendeu
é que quando um prato se esvaziava, instantaneamente um outro lhe era
substituído e assim repetidamente.
O estalajadeiro estava ali
num canto e via o que estava acontecendo; ele nem mesmo sabia o que dizer, mas
pensou, "Eu poderia facilmente encontrar uma utilidade para um cozinheiro
como esse na minha cozinha." O marceneiro e os convivas comeram e beberam
até tarde da noite; e finalmente quando eles se preparavam para dormir, e o
jovem aprendiz também foi para cama, ele colocou a sua mesa mágica encostada na
parede.
Os pensamentos do
estalajadeiro, no entanto, não o deixavam descansar; e ele se lembrou de que
havia uma mesa pequena e velha num quartinho onde ele guardava cacarecos, que
era muito parecida com a mesinha do aprendiz de marcenaria, e ele a trouxe bem
devagar e sem fazer barulho, e a trocou pela mesa mágica.
Na manhã seguinte, o
marceneiro pagou pelo uso da cama, pegou a sua mesa, sem jamais imaginar que
ela era a mesa falsa, e seguiu seu caminho. Na metade do dia ele chegou à casa
do seu pai, que o recebeu com grande festa. "Bem, meu querido filho, o que
você aprendeu?" disse para o filho. "Pai, eu me tornei
marceneiro."
"Bom ofício,"
respondeu o velhinho;" mas o que trouxeste contigo de tudo aquilo que
aprendeste?" "Pai, a melhor lembrança que eu trouxe comigo é esta
pequena mesa." O alfaiate a examinou por todos os lados e disse,
"Não me parece uma
obra de arte aquilo que fizeste; é uma
mesa velha e feia." "Mas é uma mesa que se serve sozinha,"
respondeu o filho. "Quando ela está montada, e eu falo para ela para se
servir, os mais belos pratos aparecem em cima dela, e um litro de vinho também,
para alegrar o nosso coração.
Faça o seguinte, convide
todos os nossos parentes e amigos, e eles irão se refrescar e saborear tudo que
eles tem direito, porque a mesa servirá a eles tudo o que eles pedirem."
Quando chegaram os convidados, ele colocou a sua mesa no meio da sala e disse,
"Pequena mesinha,
sirva-nos," mas a pequena mesa nem se moveu, e ficou vazia como qualquer
outra mesa que não entendia o comando do idioma. Então, o pobre aprendiz chegou
à conclusão de que a sua mesa havia sido trocada, e ficou envergonhado de ter
de suportar tudo aquilo como se fosse um mentiroso.
Os parentes, todavia,
zombavam dele, e foram obrigados a voltarem para casa sem ter comido nem bebido
nada. O pai retomou os seus remendos, e continuou a costurar, enquanto o filho
foi a procura de um especialista na sua função.
O segundo filho encontrou um moleiro e com ele aprendeu a profissão. Terminados os anos de aprendizado, o mestre disse, "Como você se mostrou ser um bom aprendiz, eu te darei um asno muito peculiar, o qual não está habituado nem a puxar charrete nem sequer carregar sacos."
"Para que me serve
ele então?" perguntou o jovem aprendiz. "De sua boca ele solta moedas
de ouro," respondeu o moleiro. "Se colocares um pano em cima dele e
disseres 'Brick-lebrit,' o bom animal lançará muitas moedas de ouro para
você."
"Oh, isso parece
interessante," disse o aprendiz, e agradeceu ao mestre, e saiu pelo mundo.
Quando ele precisava de ouro, ele tinha apenas que dizer
"Brick-lebrit" para o asno, e moedas de ouro choviam a cântaros, e
tudo o que ele precisava era apanhá-las no chão.
Onde quer que ele fosse,
tudo o que era de melhor lhe era fornecido, e o que mais ele desejava, mais ele
conseguia, porque ele tinha uma sacola que estava sempre cheia. Depois de ter
visitado o mundo todo durante algum tempo, ele pensou,
"Preciso visitar o
meu pai, e se eu for até ele levando o asno dourado ele esquecerá a raiva, e me
receberá bem. "E aconteceu que ele chegou na mesma estalagem onde a mesa
do seu irmão havia sido trocada.
Ele conduzia o seu asno
pelos arreios, e o estalajadeiro se ofereceu para levar o animal para prendê-lo
em algum lugar, mas o jovem aprendiz disse, "Não se preocupe, eu mesmo
levarei o meu cavalo cinzento para o estábulo, e eu mesmo o amarrarei, porque
eu preciso saber onde ele vai ficar."
Isto pareceu esquisito
para o estalajadeiro, e achou que uma pessoa que era obrigada a cuidar do
próprio asno, não teria muito dinheiro para gastar; mas quando o estrangeiro
colocou a mão no bolso e tirou de lá duas moedas de ouro, e disse para que o
estalajadeiro providenciasse alguma refeição para ele, este arregalou os olhos,
e foi correndo procurar o melhor alojamento para ele.
Depois do jantar, o
hóspede perguntou quanto ele devia. O estalajadeiro não se fez de rogado e
cobrou o dobro do que normalmente cobraria, e disse ao aprendiz que ele deveria
dar duas moedas de ouro. Ele colocou a mão no bolso, mas ele percebeu que não
havia mais ouro. "Espere um momento, senhor estalajadeiro," disse
ele,
"Vou correndo buscar
um pouco de dinheiro;" e para isso ele levou consigo a tolha da mesa. O
estalajadeiro não conseguiu entender o que ele pretendia, e, curioso, correu
sorrateiramente atrás dele, e assim que o convidado colocou o ferrolho na porta
do estábulo, espiou através de um pequeno buraco feito por um nó da madeira que
se soltou.
O estranho estendeu a
toalha sob o animal e exclamou, "Brick-lebrit," e imediatamente o
animal começou a lançar moedas de ouro, e começou a chover dinheiro pelo chão.
"Eh, palavra de honra," disse o estalajadeiro, "aqui moedas são
cunhadas rapidamente!
Uma fortuna como essa não
pode ser desprezada." O hóspede pagou o que devia, e foi dormir, mas
durante a noite o estalajadeiro foi bem de fininho até o estábulo, levou embora
o Mestre da Casa da Moeda, e amarrou um outro asno no seu lugar. Na manhã seguinte,
bem cedo, o aprendiz seguiu viagem com seu asno, e achava que ele estava
levando o seu asno de ouro.
Na metade do dia ele
chegou à casa de seu pai, que ficou muito feliz em vê-lo de volta, e com
alegria o abraçou. "O que fizeste da vida, meu filho?" perguntou o
velhinho. "Tornei-me moleiro, querido pai," respondeu o jovem.
"E o que trouxeste contigo de tuas viagens?"
"Nada além de um
asno." "Já há asnos o bastante por aqui," disse o pai, "Eu
preferia que você me tivesse trazido uma cabrita." "Sim,"
respondeu o filho, "mas este não é um asno comum, mas um asno de ouro, e
quando eu falor 'Brick-lebrit,' o bom animal abre a boca e derrama uma porção
de moedas de ouro.
Chame todos os nosso
parentes para que venham até aqui, e eu tornarei ricos todos eles."
"Me parece uma boa ideia," disse o alfaiate, pois então, eu não
precisarei mais me atormentar com minhas costuras," e correu para reunir
todos os parentes.
Assim que estavam todos
reunidos, o moleiro pediu para que eles abrissem caminho, estendeu uma toalha
diante de todos, e trouxe o asno até o meio da sala. "Observem
agora," disse ele, e exclamou, "Brick-lebrit," mas não caiu
nenhuma moeda de ouro, e então, ficou evidente que o animal não tinha nada de
especial, pois nem todo asno realiza tamanha maravilha.
Então, o coitado do
moleiro fez uma cara de quem estava muito chateado, e só então, percebeu que
havia sido trapaceado, e pediu perdão para os seus parentes, os quais voltaram
para casa tão pobres como haviam chegado. E de nada adiantou tudo aquilo, o
pobre pai teve de voltar para as suas agulhas mais uma vez, e o jovem voltou a
exercer o cargo de moleiro.
O terceiro irmão havia
aprendido o ofício de torneiro, e desse modo ele se tornou um trabalhador
habilidoso, e foi o que demorou mais tempo para aprender. Seus irmãos, todavia,
lhe mandaram uma carta e lhe contaram como as coisas não haviam dado certo com
eles, e como o estalajadeiro os havia trapaceado com os belos dotes na última
noite que precedeu a chegada deles em casa.
Quando ele terminou o seu
tempo de aprendizagem, e teve de partir para as suas viagens, como ele havia se
comportado muito bem, seu mestre o presenteou com um saco e disse, "Dentro
deste saco há um porrete."
"Eu vou usar este
saco," disse o jovem, "e talvez ele me seja útil, mas porque o
porrete está dentro dele? Ele só serve para ficar mais pesado." "Eu
lhe direi porque," respondeu o mestre; "se alguém tentar te
prejudicar, diga simplesmente,
"Porrete, saia do
saco!" e o porrete irá saltar no meio das pessoas, e irá dançar chicotadas
nas costas delas que elas não conseguirão nem se mexer ou se mover durante uma
semana, e ele não irá parar até que digas, "Porrete, entre dentro do
saco!"
O aprendiz lhe agradeceu,
colocou o saco nas costas, e quando alguém chegava muito perto dele, e tinha a
intenção de atacá-lo, ele dizia,
"Porrete, saia fora
do saco!" e no mesmo instante o porrete saltava para fora, e levantava
poeira dos casacos e das jaquetas de um após o outro batendo em suas costas, e
não parava nunca até que começassem a gritar, e isso era feito rapidamente,
antes que qualquer pessoa pudesse perceber, e já era a sua vez. À noitinha o
jovem torneiro chegou à estalagem onde os seus irmãos haviam sido enganados.
Ele colocou o seu saco em
cima da mesa e na sua frente, e começou a falar sobre as coisas maravilhosas
que ele tinha visto nas suas andanças pelo mundo. "É isso mesmo,"
disse ele, "as pessoas podem encontrar uma mesa que se serve sozinha, e um
asno de ouro, e outras coisas como essas — maravilhas extremamente
interessantes que de modo algum se deve desprezar — mas tudo isso não é nada em
comparação com o tesouro que eu ganhei e que levo sempre comigo, aqui no saco
em cima da mesa."
O estalajadeiro apurou os
ouvidos, e pensou "O que poderá ser isso?"; "o saco deve estar
cheio de jóias e coisas valiosas; eu deveria conseguir isso também, pois as
coisas boas são sempre em grupos de três."
Quando chegou a hora de
dormir, o hóspede se esticou no banco, e colocou o saco debaixo da cabeça como
se fosse um travesseiro. Quando o estalajadeiro achou que o seu hóspede estava
dormindo profundamente, ele foi até onde jovem dormia e começou a puxar pouco a
pouco e com bastante cuidado para ver se ele conseguiria arrancá-lo e colocar
outro em seu lugar.
No entanto, o torneiro
estava esperando por esta chance há muito tempo, e assim que o estalajadeiro
tentou puxar com força, ele gritou, "Porrete, saia fora do saco!" No
mesmo instante, o pequeno porrete saltou para fora, e caiu em cima do
estalajadeiro, dando-lhe sonoras bordoadas.
O estalajadeiro gritava
por piedade; mas, quanto mais ele gritava, mas fortes eram as bordoadas que o
porrete marcava o ritmo em suas costas, até que ele caiu no chão exausto de
tanto apanhar. Então, o torneiro falou, "Se não me devolveres a mesa que
serve sozinha, e o asno de ouro, a dança das bordoadas vai recomeçar
novamente."
"Oh, não,"
gritava o estalajadeiro, agora, com humildade, "Farei qualquer coisa que
você me pedir, desde que você devolva esse porrete assombrado para dentro do
saco." Então, disse, o aprendiz "Permitirei que a misericórdia tome o
lugar da justiça, mas prometa nunca mais fazer maldades novamente!" E
então, ele gritou, "Porrete, para dentro do saco!" e deixou que o
estalajadeiro se acalmasse.
Na manhã seguinte o
torneiro seguiu para a casa do seu pai levando a mesa mágica, e o asno de ouro.
O alfaiate ficou muito feliz por ver o filho de volta, e perguntou também a ele
o que ele havia feito naquelas regiões estrangeiras.
"Querido pai,"
disse ele, "Eu me tornei um torneiro." "É uma ótima
profissão," disse o pai. "E o que trouxeste contigo de tuas
viagens?"
"Uma coisa preciosa,
querido pai," respondeu o filho, "um porrete dentro de um saco."
"O quê!" gritou
o pai, "um porrete! É para isso que valeu todo seu esforço! De todas as
árvores você pode fazer um porrete." "Mas não um como este, querido
pai. Se eu disser 'Porrete, saia para fora do saco!' o porrete salta para fora
e se lança sobre qualquer um que tentar me prejudicar com pesadas cacetadas, e
não pára nunca até que ele esteja caído no chão e implore por piedade."
"Veja você, com este
porrete eu consegui de volta a mesa mágica e o asno de ouro que o larápio do
estalajadeiro tomou dos meus irmãos. Agora peça para que os dois venham até
aqui, e chame todos os nossos parentes."
Eu darei de beber e comer
a eles, e encherei o bolso deles de ouro." O velho alfaiate não conseguia
acreditar, não obstante, reuniu todos os seus parentes. Então, o torneiro
estendeu uma toalha no chão e conduziu o asno de ouro até o interior, e disse
para o seu irmão,
"Agora, querido
irmão, fale com ele." O moleiro disse, "Brick-lebrit," e no
mesmo instante moedas de ouro começaram a cair sobre a toalha como chuva num dia
cheio de trovões, e o asno não parou até que todos eles tivessem recebido tanto
a ponto de não conseguirem carregar mais. (Estou vendo no rosto do leitor que
você também desejaria estar lá.)
Então, o torneiro trouxe
a pequena mesa, e disse, "Agora, querido irmão, fale com ela." E mal
o carpinteiro disse, "Mesa, sirva-nos," então, ela se estendeu e se
abriu repleta com os mais exóticos pratos.
E então, uma deliciosa
festa foi realizada como o bom alfaiate jamais havia visto em sua casa, e todos
os seus parentes ficaram ali se regalando até tarde da noite, e todos foram
embora felizes e satisfeitos.
O alfaiate guardou sob
chave todas as agulhas e linhas, a vara de medir e o ganso, dentro de uma
armário, e viveu junto de seus três filhos com muita alegria e tranquilidade.
(Mas, o que será que
aconteceu com a cabra que era a culpada pelo alfaiate ter expulso seus três
filhos? Isso eu vou contar para vocês. Ela sentiu vergonha de ter a cabeça
raspada, e correu até o buraco de uma raposa e entrou dentro dele.
Quando a raposa chegou em
casa, ela se deparou com dois grandes olhos que brilhavam como fogo na
escuridão, e ficou muito assustada e fugiu para longe. Um urso encontrou-se com
ela, e como a raposa parecia muito perturbada, ele disse, "O que é que
você tem, minha amiga Raposa, porque você está assustada desse jeito?"
"Ah," respondeu
a Pele Vermelha, "um animal feroz entrou dentro da minha toca e olhava
para mim com seus olhos em brasa." "Vamos expulsá-lo de lá,"
disse o urso, e foi com ela até onde era o buraco e olhou lá dentro, mas quando
ele viu os olhos vermelhos, ele também ficou assustado; e como nada tinha de
ver com o furioso animal, tacou sebo nas canelas.
Um abelha encontrou com o
urso, e quando ela viu que ele estava com as pernas bambas e trêmulas, ela
disse, "Urso, você está com uma cara de dar dó; cadê toda aquela alegria
do meu amigo?" "Tendes toda razão de falares assim," respondeu o
urso, "um animal furioso de olhos arregalados está na casa da Pele
Vermelha, e nós não conseguimos expulsá-lo."
A abelha disse, "Urso,
estou com dó de você, eu sou uma criatura pequena e fraca a quem você não se
atreveria se virar para olhar, mas ainda assim, eu acho, que eu posso te
ajudar." Ela foi correndo para a toca da raposa, pousou sobre a cabeça
lisa e raspada da cabrita, e a picou com violência, que a cabrita deu um pulo,
e gritou "Mé, mé," e saiu correndo pelo mundo como se fosse louca, e
até hoje ninguém sabe para onde ela foi.
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