A história da caveira
Conto Celta
Era uma vez um granjeiro que tinha
apenas um filho. Este filho morreu e o pai não quis ir ao enterro porque antes
houve uma briga entre eles. Passado um tempo, morreu um vizinho e ele foi ao
seu enterro. Depois da cerimónia e ainda estando o granjeiro no cemitério,
olhando distraído ao redor viu uma caveira.
Juntou-a e disse, pensativo:
- Gostaria de saber alguma coisa sobre
ti...
E a caveira falou:
- Amanhã irei passar a noite contigo,
se vieres passar outra noite comigo.
-Assim farei - disse o granjeiro.
No caminho de volta, encontrou um
sacerdote e comentou o que tinha ocorrido. O sacerdote lhe disse que deveria
ter sonhado, posto que as caveiras não falam.
O granjeiro lhe contou que na noite
seguinte seria visitado pela caveira, e o sacerdote concordou em ir.
Assim, na noite seguinte, estavam o
granjeiro e o sacerdote conversando quando, em seguida, chamaram à porta e
apareceu a caveira. Ela subiu à mesa e comeu tudo que nela havia. Depois, saiu
e desapareceu.
- Por que não falaste nada? inquiriu o
granjeiro ao sacerdote.
-Por que TU não falaste?. respondeu o
outro.
Na noite seguinte, como dia combinado
com a caveira, o granjeiro foi até o cemitério e, não vendo nada, desceu os
três degraus que estavam junto à Igreja.
De pronto se encontrou no meio de um
campo, cheio de homens que lutavam entre si. Ao ver o granjeiro,
perguntaram-lhe se procurava o crânio. Ao assentir, eles disseram:
- Acaba de ir para o campo ao lado.
No outro campo viu homens e mulheres
que lutavam entre si. - Estás procurando um crânio? - perguntaram. Pois bem,
acaba se ir ao campo do lado.
O granjeiro se foi ao campo do lado e
viu uma grande casa. Ao entrar viu que era a habitação de uma dama e uma
criada. A dama caminhava de um lado a outro da casa, e cada vez que chegava
perto do fogo para se aquecer, a criada a empurrava. Também lhe perguntaram se
buscava um crânio e que se era isso, que saira pela porta esquerda da casa e
por ali saiu o granjeiro.
Ao entrar na casa contígua, encontrou a
caveira e esta lhe perguntou se queria cear, com o que assentiu o granjeiro. A
caveira o conduziu a cozinha onde estavam três mulheres. A caveira pediu a uma
delas que servisse a ceia, e esta serviu pão preto e uma jarra d’água, o que
ele não conseguiu comer. Em seguida pediu à segunda mulher que fizesse o mesmo,
e ela serviu pior ao granjeiro do que a primeira. Por fim a caveira pediu à
terceira mulher, e esta serviu uma deliciosa refeição, com uma profusão de
pratos e excelentes vinhos.
Depois de comer, perguntou ao crânio o
que tinha sido aquilo.
- Os homens que viste no primeiro campo
se dedicavam a lutar entre si enquanto estavam vivos, porque tinham terras
próximas e se acostumavam a mover as estacas e agora precisam lutar entre si
para sempre. Os homens e mulheres que viste eram casais casados que viviam a
brigar e agora devem seguir eternamente em brigas. A senhora que viste na casa
e que a criada não deixava se aquecer fez o mesmo com a criada, que um dia
chegou molhada e com frio, e agora a criada faz o mesmo com ela, até o dia do
Juízo Final. As três mulheres na cozinha foram minhas três esposas. Quando
pedia à primeira que me preparasse a ceia, me oferecia pão preto e água, a
segunda ainda coisa pior mas a terceira me servia o banquete que ceaste.
A caveira então olhou lugubremente o
lavrador e disse:
-E quanto a ti, foste trazido a este
lugar por não querer ir ao funeral do teu filho, apesar de teres ido ao de um
vizinho. Assim, sugiro que, se queres te salvar, vá onde enterraram teu filho e
pede-lhe perdão e, caso o obtenhas, saiba que desde o dia que saíste de casa
até chegar aqui se passaram 700 anos.
O lavrador ficou petrificado e, como
despertando de um sonho, se viu caminhando pelos campos, por lugares que antes
ele havia passado mas que haviam mudado de forma pelo tempo transcorrido. Ao
fim chegou ao cemitério e conseguiu localizar a tumba do filho . Ali se
ajoelhou e pediu perdão. O perdão a seu filho.
Por fim surgiu uma mão da tumba, que
tomou a sua e ambos, pai e filho, subiram juntos ao céu.
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