Gonbeesan
Conto
japonês
Esta é uma história bem
antiga. Em uma pequena vila havia um servo velho de nome Gonbeesan. Perto de
sua casinha havia um lago, desses meio pantanosos, onde ele costumava observar
a chegada de vários patos-selvagens que vinham do norte, durante o outono.
Um dia, o velho servo
decidiu pegar alguns patos-selvagens, já que não estava trabalhando com o
arado. Desde aquele dia, começou a colocar armadilhas em alguns pontos do lago
e conseguia pegar um pato a cada manhã.
Logo um pensamento
veio-lhe à cabeça:
"Pego um pato todos
os dias, e somente um. Isso é chato! Quero pegar cem patos! Isso: cem deles! Aí
então poderei descansar os outros noventa e nove dias. Muito bem, é isso que
farei!"
Gonbeesan trabalhou sem
parar fazendo suas armadilhas a fim de realizar seu plano. Até que finalmente
conseguiu montar cem armadilhas. Poderia, com elas, aprisionar um pato-selvagem
em cada uma. Arranjou todas as armadilhas em fileira, fez laços apertados e
esperou pela chegada dos patos.
A madrugada chegou
rapidamente. Centenas de patos-selvagens estavam chegando ao lago, e, um a um,
acabaram sendo presos pelas armadilhas. Gonbeesan estava radiante de alegria, e
começou logo a contar os patos que tinha aprisionado. Pôde contar noventa e
nove, todos eles imóveis, presos às armadilhas.
— Muito bem, muito bem...
somente mais um e terei cem deles!, falou sozinho o velho, que ficou esperando
pelo último pato-selvagem.
O pato esperado,
entretanto, não chegou. Os outros patos já estavam resmungando por causa dos
laços das armadilhas, e a aurora já despontava no horizonte.
Com os primeiros raios de
sol, de repente todos os patos começaram a voar ao mesmo tempo. Noventa e nove
patos voando, todos presos à mesma corda! Faziam um esforço enorme para
levantar vôo, e, sem saber como, Gonbeesan caiu em uma das armadilhas e foi
levado ao céu junto com os outros patos.
Os patos estavam voando
para o sul. Gonbeesan era o último da fila, preso pelo pé, e estava com medo de
cair; os patos voavam para o alto e mais para o alto, sobre as nuvens e sobre
os montes. Olhou para baixo e viu que as casas estavam ficando cada vez
menores. Então começou a gritar, "Socorro! Alguém me ajude! Quero
descer!"
Os patos, por outro lado,
pareciam não escutar o que ele dizia e continuavam a subir.
De repente, a corda que
estava prendendo o pé de Gonbeesan rompeu-se. Ele estava caindo nuvens abaixo,
em direção às verdes pastagens lá embaixo.
Mas... meu Deus! seu
corpo estava ficando menor e cada vez menor! Surgiram asas no lugar de seus
braços e um bico no lugar de sua boca! Gonbeesan havia se tornado um
pato-selvagem! Agora ele podia voar com os outros, e foi o que fez.
Estava mais do que
surpreso com tal mudança. Depois de voar algum tempo, sentiu fome e teve
vontade de descer para comer algo. Como os outros patos, Gonbeesan procurava um
lugar para pousar e procurar comida. Viu, finalmente, um lago pantanoso e
decidiu dar uma esticada até lá.
Havia muitos peixes
nadando logo abaixo a superfície da água. Agora ele podia matar a sede e comer
alguns peixinhos.
Alguma coisa, porém,
estava segurando seus pés. Voltou-se rapidamente para baixo e viu que estava
preso em uma armadilha! A armadilha era semelhante àquelas que ele fazia antes.
Não podia mover as pernas. Estava preso!
Uma tristeza profunda
invadiu sua alma e pensou, "fui muito mau quando fiz aquilo com os
patos-selvagens. Agora entendo como fui mau com eles!" Lágrimas começaram
a escorrer pela face até o bico.
Algumas lágrimas desceram
até a corda que estava prendendo seu pé, molhando-a. Curiosamente, a corda se
soltou e seu corpo cresceu novamente. Agora ele era, milagrosamente, Gonbeesan,
o velho servo feudal!
Desde esse dia Gonbeesan
decidiu parar de aprisionar os patos-selvagens e prometeu ser um homem de
boas-ações para o resto de sua vida.
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