O Macaco Retribui uma
Bondade
Conto
Japonês
Há muito tempo, numa vila de pescadores na ilha Kyushu
ao sul do Japão, vivia contentemente um pescador muito esforçado e trabalhador
com sua esposa e seu filho, que ainda era um bebê.
Um certo dia, quando a maré estava baixa, sua esposa
colocou o bebê nas costas e saiu com suas vizinhas para recolher as conchas da
praia. O tempo estava ótimo naquele dia, então a praia estava repleta de
pessoas, todas em busca das conchas perfeitas.
Para facilitar seu trabalho, a esposa do pescador
tirou o bebê das costas, deitou-o sobre um cobertor numa grande rocha e pediu
ao filho de sua vizinha que o vigiasse. Agora que estava livre do peso do bebê,
voltou ao trabalho.
Enquanto recolhia as conchas, ela percebeu que um
macaco brincava na praia há alguma distância de onde estavam. Parecia ter vindo
de alguma montanha da proximidade. Então disse a uma de suas vizinhas:
- Olhe aquele
macaco ali. O que será que ele está fazendo? Vamos ver mais de perto!
Quando chegaram perto o suficiente, perceberam que uma
grande concha havia se fechado numa das patas dele e ele lutava para se livrar
dela. E a esposa do pescador disse:
- Ah! Agora
entendi o que está acontecendo. Ele deve ter tentado tirar a carne de dentro da
concha e esta se fechou em sua pata.
A cena era surpreendente, pois quanto mais o macaco
tentava tirar a pata dali, mais a concha tentava se enterrar na areia. Algumas
pessoas se aproximaram com pedras, decididas a matar o macaco, pois desprezavam
tal animal, já que os macacos estragavam plantações e assustavam os animais das
fazendas. Mas a esposa do pescador foi tocada pelo sofrimento do pobre animal e
pediu que deixassem-no em paz.
Enquanto isso, a maré subia e ondas enormes começaram
a estourar na praia, e muitas pessoas que recolhiam conchas foram embora para
suas casas. Mas, a bondosa esposa do pescador ajudou o macaco até que se
livrasse da concha, e sentida também pela concha, enterrou-a fundo na areia
úmida. E disse ao macaco:
- Vou pedir a
você que não mais roube de nossas fazendas.
Parecia
que o animal havia entendido seu pedido, e mesmo assim, num segundo, ele pulou
até a rocha onde estava o bebê da esposa do pescador, pegou-o com cobertor e
tudo e correu em direção às montanhas.
A
mulher ficou chocada com tamanho gesto de ingratidão. Enfurecida, ela gritava:
O
macaco me retribuiu a bondade com maldade!
E
corria atrás dele. Os vizinhos que ainda estavam ali começaram a criticá-la por
ter poupado a vida do macaco.
Mesmo
com o bebê em seus braços, o macaco corria tão rápido que ninguém conseguia
alcançá-lo. Em meio aos prantos daquela mulher para que ele devolvesse o bebê,
o macaco subiu numa árvore muito alta e chegou ao galho do topo. As pessoas
cercaram a base da árvore, mas não havia nada que pudessem fazer. Um dos
pescadores saiu em busca do pai do bebê.
Enquanto isso, o macaco segurava o bebê com seu braço
direito e com o esquerdo segurava-se no galho e balançava para cima e para
baixo. O bebê, sentindo-se incomodado, começou a chorar e a gritar. Sua mãe, lá
embaixo, sentia que seu coração fosse parar de tanto desespero.
Neste momento, uma águia imensa começou a rondar o céu
em volta da montanha. A preocupação daquelas pessoas agora era que a águia
pudesse pegar o bebê. A mãe fechou os olhos e começou a pedir que Buda
protegesse seu filho.
Quando a águia mergulhou em direção ao bebê, o macaco
soltou o galho, que disparou em direção a cabeça da águia, que morreu
instantaneamente. O enorme pássaro caiu no chão, e nesse momento o macaco
repetiu o que havia feito, pois uma segunda águia mergulhava em direção ao
bebê. No momento certo, o macaco fez o mesmo. E aconteceu que matou cinco
águias da mesma forma. As pessoas do vilarejo assistiam espantadas àquela incrível
luta, e finalmente compreenderam que enquanto o macaco lutava para se livrar da
concha na praia, ele havia percebido que as águias sobrevoavam a rocha sobre a
qual o bebê se deitava, portanto, assim que se livrou da concha, correu para
salvar o bebê.
Uma vez terminada a batalha e o perigo fora de
alcance, o macaco desceu da árvore e deitou o bebê aos pés da mãe, e voltou
para o topo da árvore. Quando o pai do bebê chegou, tudo já havia sido
resolvido, e as pessoas da vila se alegraram e comemoraram juntas o final feliz
de uma história que parecia só poder ter um fim trágico, e voltaram às suas
casas.
O pescador, por sua vez, obteve grande lucro com os
mercadores locais, pois vendeu cada uma das penas das cinco águias que o macaco
havia derrotado.
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