A Pupila do Dragão
Conto
Chinês
Durante a Dinasti Sung (1127-1279d.C.), viveu um dos
três maiores pintores do reino de Liang, seu nome era Chiang. Como o Budismo
era a religião prevalente daquele período, Chiang pintava, entre muitas outras
coisas, murais nos templos budistas nas cidades do campo.
Um certo dia, Chiang visitou um famoso templo chamado
Anlo Shih. O abade daquele templo, reconhecendo Chiang e já sabendo de sua
fama, pediu que pintasse alguns murais para melhorar a aparência do templo e os
visitantes se sentiriram mais atraídos ao lugar.
Em princípio, Chiang estava relutante em aceitar tal
trabalho, mas o abade persistia tanto e eleogiava-lhe tanto, que Chiang
finalmente concordou em fazê-lo.
Ele estudou minuciosamente as paredes do hall
principal do templo e pintou um grande dragão em cada uma delas. Quando o
trabalho havia terminado, os dragões pareciam tão reais que quem olhasse tinha
a nítida impressão de que eles estavam realmente vivos. Seus focinhos abertos,
chama e fumaça saiam de suas narinas, e parecia que com um grande grito, todos
eles deixariam as paredes e ascenderiam aos céus. Todos os turistas e visitantes
que por ali passavam, paravam para admirar tal arte, mas parecia que algo
estava faltando. Parecia que Chiang havia se esquecido de pintar as pupilas dos
dragões!
Então, as pessoas pediram que Chiang viesse completar
a pintura, para que os dragões estivessem maravilhosamente completos em cada
detalhe. Mas, para a surpresa de todos, Chiang negou o pedido e disse:
- Não é que
eu esteja negando o seu pedido, a realidade é que se eu pintar as pupilas dos
dragões, eles imediatamente sairão das paredes e ascenderão aos céus.
Mas as pessoas se recusavam acreditar naquilo, e
achavam que ele estava sendo esnobe, deixando seu trabalho incompleto por
detalhe de tal importância. Então, redobraram os pedidos, e com eles, os
elogios. Com tantas palavras gloriosas, Chiang acabou por concordar. Pegou seu
pincel e pintou as pupilas do primeiro dragão.
E aconteceu que não houve nem mesmo tempo suficiente
para que o abade e os visitantes apreciacem o término do trabalho do artista.
No momento em que os olhos do primeiro dragão foram pintados, aqueles mesmos
olhos se moveram e o céu escureceu. Um grande trovão soou e o hall brilhou com
a grande chama que saiu de suas narinas. O dragão saiu da parede e ascendeu às
núvens, desaparecendo na imensidão dos céus!
Os outros três dragões, sem suas pupilas pintadas,
permaneciam imóveis e silenciosos nas outras paredes. E não houve mais um
pedido sequer para que se pintasse as pupilas deles.
“Qualquer que seja a criação, esta se define em um
único ponto central. Uma vez alcançado o ponto, a criação ganha vida.”
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