A pequena fada
do pomar
Era Verão.
Lia tinha estado a manhã toda a brincar no pomar dos avós. Pensou em tudo o que
tinha feito: oito mergulhos na piscina, um passeio enorme de bicicleta, uma
caça ao tesouro com os primos. Tinha comprado pão na padaria, leite na leitaria
e enchido um cesto de framboesas. Bocejou. E se descansasse agora um pouco,
apenas cinco minutos, debaixo da macieira? O sol estava a pique; as vespas
zumbiam e dançavam por cima das rosas; as cigarras cantavam; as framboesas
perfumavam o ar. Lia suspirou:
− Quem me
dera ficar aqui para sempre e não ter de voltar à cidade!
De
repente, apercebeu-se de uma luzinha azulada por entre as suas pestanas. Pensou
tratar-se de um pedacinho de céu que, sem querer, se tinha deslocado. Mas não.
Havia um vestido e uma cara, dois bracinhos cor-de-rosa, duas perninhas e um
par de sapatinhos azuis. Parecia uma borboleta, mas bem mais leve do que uma
libelinha. Lia sentiu um sopro…
− Bom dia,
Lia – murmurou uma vozinha minúscula. − Sou a fada do pomar. Visito muitas
vezes as crianças antes do meio-dia, quando o sol ainda não está muito forte.
Consegues ver-me?
Lia,
surpreendida, atónita, admirada, acenou afirmativamente.
− Vou
levar-te a passear. Mas não me percas de vista!
Lia
apoiou-se nos cotovelos e levantou-se.
−
Despacha-te! Despacha-te! Só faltam dez minutos para o meio-dia. Queres que te
apresente aos meus filhos?
Lia
esfregou os olhos e disse que sim com a cabeça. Tinha medo de que a fada
desaparecesse se ela falasse. Seguiu a pequena forma azul que ia à sua frente.
− Vê bem
os dentes-de-leão, que voam com o vento quando lhes sopramos… E as papoilas.
Quando estão de pernas para o ar parecem bonitas dançarinas com vestidos
vermelhos.
A fada do
pomar ia mostrando à menina as margaridas, as petúnias, as rosas amarelas e as
rosas vermelhas. Lia nunca tinha contemplado de tão perto o vestido de uma
rosa, o recorte de uma folha.
− Não são
bonitos os meus filhos?
A
fadazinha esvoaçava, com as mãos cruzadas sobre o peito.
− Agora
vou apresentar-te os meus preferidos…
E levou
Lia até à horta, onde cresciam as cenouras, os tomates e os pepinos.
− A
primeira coisa a notar é o cheiro, que é mágico…Força, cheira!
Lia
curvou-se e cheirou, contra vontade, os pepinos, os tomates, as alfaces, a
salsa, o tomilho, o loureiro, o rosmaninho…
− Mas isto
são só legumes − disse a menina, franzindo o nariz − e eu não gosto de legumes.
A pequena
fada ficou vermelha de cólera. A sua vozinha minúscula tremeu.
− O que
queres dizer com “só legumes”? Fui eu que os criei! São as mais belas criações
de todo o universo, porque os colhemos das árvores ou da terra, e são bons para
comer.
Voltejando
em torno de Lia, a fada continuou:
− Ora
cheira! Ali estão as ervilhas, dentro da sua casinha verde. Se trincares uma,
ainda crua, vais ver a vida vestida de verde. E olha para os pepinos e para os
melões. Têm uma água mágica dentro deles que ajuda a crescer. Sabias que as
fadas bebem a água dos pepinos? − perguntou a fada do pomar a rir.
E voou de
novo, desta vez numa outra direcção.
− E olha
para o milho! Vê bem estas espigas douradas alimentadas pelo sol. Vou contar-te
um segredo: o sal dos legumes é como o vento que vem do mar. O açúcar é como um
pouco de sol. A sua água é como um riacho. Se misturarmos tudo, temos as mais
belas criações da terra! É por isso que os frutos e os legumes curam tudo:
constipações, amigdalites, tristezas. E ajudam a crescer.
A visita
tinha chegado ao fim. A fada do pomar repetiu:
− Os
frutos e os legumes foram todos feitos por mim e sinto-me muito orgulhosa
deles.
E trincou um
tomate com gosto.
− Sempre
que vires um fruto ou legume, deves agradecer.
− Não
sabia que as fadas gostavam tanto de legumes − disse Lia, admirada. − Pensava
que comiam bombons.
A
fadazinha do pomar desatou a rir.
− Bombons!
Mas isso seria impossível! Perderia toda a minha magia. Talvez quando os
bombons crescerem nas árvores…
De
repente, parou de falar e levantou a cabeça.
− O sol
está quase a pique. Tenho de ir embora. Não te esqueças dos meus filhinhos…
Lia viu-se
de novo sob a macieira. Franzindo os olhos, tentou ainda encontrar a forma
imprecisa e trémula da fada do pomar. Decidiu finalmente ir para casa, com o
cesto cheio de framboesas. A avó estava a descascar feijão verde.
− Sabes
que tive um sonho formidável? − perguntou-lhe Lia. − Encontrei a fada do pomar.
− Tiveste
muita sorte − respondeu a avó. − Levou-te a ver o jardim e o pomar? − perguntou
por sua vez.
− Sim −
respondeu Lia docemente. − Apresentou-me todos os legumes.
Lia
calou-se porque, de repente, a ideia de uma fada a trincar um tomate parecia-lhe
bastante improvável… Depois do almoço, durante o qual obviamente devorou todos
os legumes que havia na mesa, voltou ao pomar. Queria verificar uma coisa no
canteiro dos tomates. Depois de muito procurar, acabou por ver o tomate meio
comido pelos dentinhos da fada. Pegou nele com delicadeza e comeu o resto!
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